A biodiversidade da Mata Atlântica no Coração do Rio
- Vozes da Pedra Branca
- 31 de mai. de 2023
- 5 min de leitura
A pedra branca comemora o dia da biodiversidade e o dia da Mata Atlântica
A biodiversidade é um termo que se refere à variedade de formas de vida existentes em um determinado ecossistema ou em todo o planeta. Ela abrange não apenas as diferentes espécies de animais, plantas e microrganismos, mas também a diversidade genética dentro de cada espécie, bem como os diferentes ecossistemas e habitats onde essas formas de vida se desenvolvem.
Um dos exemplos mais ricos em biodiversidade é a Mata Atlântica, um bioma brasileiro que se estende ao longo da costa leste do país. A Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais diversos do mundo, abrigando uma vasta gama de espécies endêmicas, ou seja, espécies que são exclusivas desse bioma e não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta. O Parque da Pedra Branca é um complexo com diferentes histórias em cada uma das suas vertentes, com mais diversidade em um lado e menos no outro.
De acordo com o biólogo Jailton Costa, “A flora da Pedra Branca possui pouco estudo, mas a Fiocruz Mata Atlântica está trabalhando nisso, permitindo um maior entendimento e conhecimento da flora local. Ao observar a Pedra Branca, é necessário compreender o passado para compreender o futuro, pois o atual Parque Estadual da Pedra Branca teve um intenso uso agrícola em suas áreas baixas, com o cultivo de cana-de-açúcar e café, seguido pelo ciclo do carvão. Houve uma exploração significativa em locais como Camorim, Vargem Grande e Vargem Pequena, onde a maior parte da área foi desmatada. Em outras palavras, a floresta que vemos hoje já foi derrubada, o que provavelmente resultou na perda de uma parte significativa da diversidade que existia nesta região.”
Na Pedra Branca, existem espécies da flora que se reproduzem e geram um banco de sementes, enquanto outras não possuem essa capacidade. Algumas espécies não são capazes de lidar com mudanças climáticas e, consequentemente, desaparecem. Portanto, certamente ocorreram extinções nesta região. Apesar disso, ainda há uma grande diversidade presente. Jailton Costa já realizou estudos em várias localidades, percorrendo todo o maciço da Pedra Branca e estabelecendo noventa parcelas em diversas áreas como parte de seu trabalho para a prefeitura.
Após a exploração do carvão, a vegetação se regenerou e as pessoas encontraram uma cultura autossustentável, fácil de produzir, em que poderiam simplesmente plantar e deixar crescer, expandindo a área de plantações. No caso das bananas, elas eram cultivadas nas áreas mais elevadas, dentro da serra, em vez das regiões mais baixas. E mais uma vez, causou um impacto em relação à diversidade vegetal local.
De acordo com as observações de Jailton, é possível falar que existe uma grande diversidade de espécies, pois houve um período em que o uso da terra foi interrompido e em algumas áreas da floresta, o relevo facilitou a regeneração da floresta. Por exemplo, a vertente norte (que se estende até Realengo, Bangu e Senador Camará) pôde se recuperar, no entanto, de forma mais lenta que em outras áreas da Pedra Branca, devido ao pastoreio e incêndios frequentes, dificultando a recuperação florestal.
Na Fiocruz Mata Atlântica, acredita-se que existam cerca de 400 espécies diferentes de árvores ao longo da vertente. Ainda hoje, são descobertas novas espécies no Parque da Pedra Branca, como uma espécie de myrtaceae, semelhante à goiaba. Isso mostra que, mesmo nos dias atuais, há descobertas sendo feitas na área. Poucos estudos foram realizados na Pedra Branca em comparação com outros lugares, e é necessário investir em pesquisa para conhecer melhor sua diversidade. Existem apenas dois ou três estudos sobre a vegetação em uma área de cerca de 2.800 hectares. A pesquisa incluiu o trabalho de Juliana, que estabeleceu parcelas e utilizou dados antigos, bem como o trabalho do professor Rogério da PUC, que investigou fornos de carvão e suas áreas adjacentes.
Ele possui três coletas de lauraceae, que é a família que estou interessado em estudar.
Ele fez extensas pesquisas, explorando várias áreas e marcando muitos pontos de estudo aqui. Isso mostra que há uma falta de estudos para reconhecer e entender a importância da região. Comparando com um professor que estudou lauráceas em Macaé de Cima, por exemplo, lá foram coletadas cerca de quarenta espécies, enquanto aqui temos metade desse número. Essa falta de dados acaba prejudicando a floresta e influenciando em como ela é percebida, sendo classificada como uma área melhor ou pior, mas tudo isso é devido à falta de estudos. Macaé de Cima possui muitas pesquisas e publicações científicas, ao contrário da Pedra Branca.
Precisamos descobrir o que há aqui, mas isso requer esforço e empenho. No projeto Biota Pedra Branca, teremos a oportunidade de estudar outras áreas do parque, o que facilitará a compreensão. No entanto, já sabemos que a área de Camorim até o Pau da Fome é a melhor para conservação e diversidade dentro do parque, conforme indicado por estudos sobre a família Myrtaceae. Encontraram algumas poucas espécies em Vargem Grande e em locais como Rio Prata, mas quando vai para a Colônia, a quantidade de espécies triplica. Isso mostra que falta trabalho e produção científica para realizar levantamentos adequados. A matéria no jornal ajudará a promover essas questões, pois as pessoas pensam que não há nada aqui, mas na verdade é porque os botânicos não vieram fazer muitas pesquisas. A Pedra Branca tem menos estudos em comparação com a Floresta da Tijuca, por exemplo, e menos estudos do que o Parque do Mendanha.
A informação é escassa, no entanto, estamos caminhando para melhorar e mudar isso. Outras pessoas virão para a Fiocruz no projeto de Botânica, e teremos um profissional especializado que colaborará nas coletas e trará mais conhecimentos para que possamos conhecer melhor essa área, pois conhecemos muito pouco. O biólogo Jailton fez um estudo de mapeamento de Pau-Brasil na Pedra Branca, pois não havia registros dessa espécie aqui. Agora temos coletas, encontramos Pau-Brasil aqui e em Guaratiba. No entanto, não há Pau-Brasil conhecido de Pedra de Guaratiba até o Chuí, no sul. Estão sendo realizados estudos para descobrir se existe alguma população de Pau-Brasil nessa região. Ainda há muito a ser descoberto, mas é necessário pesquisa e estudo para encontrar essas plantas. A falta de levantamento reduz significativamente a flora local, mas estamos caminhando para melhorar isso. Recentemente, foram encontradas duas novas espécies em Niterói, em uma mesma área, o que mostra a falta de pesquisa. Quando as pessoas vão lá, coletam e pesquisam, novas espécies são encontradas e publicadas, aqui também temos esse potencial.
Na Floresta da Tijuca, por exemplo, há algumas espécies que ainda não foram identificadas. Estou aguardando a floração para determinar se é uma nova espécie ou uma espécie já conhecida, mas provavelmente é uma nova espécie devido ao tamanho do fruto, que às vezes é do tamanho de uma laranja. Essas são descobertas que ocorrem à medida que estudamos, conhecemos mais e buscamos compreender melhor a diversidade, especialmente da flora. Hoje, a existência da fauna depende completamente da existência da floresta. É preciso ter floresta para ter fauna, e essa fauna precisa de alimentos suficientes para sobreviver. Caso contrário, ocorrerá um desequilíbrio populacional e uma tragédia se aproxima.
Ao falar de estudos que envolvem a Pedra Branca, existem pesquisadores que fazem o monitoramento da fauna através de câmeras fotográficas com sensor de movimentos que são instaladas na mata, para observar seus hábitos, quantidade populacional e incidência das espécies no local. Além das câmeras, também são feitos trabalhos com armadilhas para pequenos animais, como roedores, marsupiais e morcegos, analisando a saúde desses animais e catalogando as espécies.
Vale lembrar que os animais silvestres são importantes para a manutenção do ecossistemas, pois eles são dispersores de sementes, polinizadores, realizam controle populacional, entre outras atividades essenciais para a natureza. A presença desses estudos na Pedra Branca é importante pois auxilia a compreender o estado de conservação da floresta, visto que, muitos animais são considerados espécie-chave e indicadores de qualidade de ambiente. A presença de animais raros e com uma alimentação muito específica, indica que aquele local está bem preservado, em contrapartida, espécies de animais que conseguem viver em ambientes mais urbanos, como ratos, animais domésticos, pombos, quando são encontrados na floresta, significa que há alguma alteração naquele local e precisa de uma atenção em relação a conservação.
Preserve a nossa biodiversidade!
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